sexta-feira, 15 de maio de 2015

Segundo a Bíblia, uma mulher pode ser vendida depois de estuprada?




Recentemente deparei-me com os argumentos dessa imagem em uma página de humor ateu. Logo percebi o texto bíblico fora de contexto, sendo deturpado e, como de costume, muitas pessoas manifestando suas indignações nos comentários sem sequer averiguar se as informações são verídicas. Então, resolvi comentar sucintamente sobre o versículo citado na imagem. 
Como não consegui encontrar a imagem em português, traduzo o que está escrito nela:

"A Bíblia diz que uma mulher pode ser vendida depois de ser violentada"
"O Alcorão diz que as mulheres devem ser sexualmente submissas aos homens"
"A Bíblia Satânica diz que não deve-se avançar sexualmente a menos que lhe seja dado um sinal positivo"

É explícita a intenção do autor da imagem: Mostrar a aparente superioridade moral da Bíblia Satânica em comparação a livros religiosos como a Bíblia Sagrada e o Alcorão.  

Não pretendo discorrer acerca do verso citado do Alcorão e da Bíblia Satânica. Irei me ater aqui somente à defesa do verso retirado da Bíblia Sagrada.

Comecemos pelo texto na íntegra: 

Deuteronômio 22:22-28:
22 Se um homem for encontrado deitado com mulher que tenha marido, morrerão ambos, o homem que se tiver deitado com a mulher, e a mulher. Assim exterminarás o mal de Israel.23 Se houver moça virgem desposada e um homem a achar na cidade, e se deitar com ela, 24 trareis ambos à porta daquela cidade, e os apedrejareis até que morram: a moça, porquanto não gritou na cidade, e o homem, porquanto humilhou a mulher do seu próximo. Assim exterminarás o mal do meio de ti.25 Mas se for no campo que o homem achar a moça que é desposada, e o homem a forçar, e se deitar com ela, morrerá somente o homem que se deitou com ela; 26 porém, à moça não farás nada. Não há na moça pecado digno de morte; porque, como no caso de um homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim é este caso; 27 pois ele a achou no campo; a moça desposada gritou, mas não houve quem a livrasse.28 Se um homem achar uma moça virgem não desposada e, pegando nela, deitar-se com ela, e forem apanhados, 29 o homem que se deitou com a moça dará ao pai dela cinqüenta siclos de prata, e porquanto a humilhou, ela ficará sendo sua mulher; não a poderá repudiar por todos os seus dias.

O texto em apreço encontra-se em um livro do Antigo Testamento – para os cristãos - e na Torá - para os judeus - chamado DEUTERONÔMIO, que faz parte dos cinco primeiros livros da Bíblia e da Torá. 

Esse conjunto dos cinco primeiros livros nós chamamos de PENTATEUCO (Indico a leitura do livro “O Pentateuco, de Paul Hoff, é um comentário exegético maravilhoso!). Deuteronômio é o quinto livro do Pentateuco e significa “Cópia da lei” ou “Repetição da lei”,  que expressa o que ele realmente é: Uma repetição da Lei Mosaica dada no livro de Levítico (o terceiro do Pentateuco). 
Foi escrito por Moisés, cerca de 1.406 a.C, pouco antes da morte do mesmo. É direcionado ao povo hebreu (os judeus) que estavam no deserto se preparando para entrar em Canaã, logo após terem fugido como escravos libertos do Egito.

O capítulo 22 de Deuteronômio traz “diversas leis” àquele povo, inclusive sobre casamento e relações sexuais. Vamos analisar esses quatro casos acerca desse assunto, relatados a partir do versículo 22:

No primeiro caso, no versículo 22, temos um caso de adultério. Fica bem claro que a mulher era casada, obviamente o homem sabia disso, porém, mesmo assim ele se deitou com ela. Então temos um caso de adultério que, entre o povo hebreu, era punido com morte.

No segundo caso relatado no texto, no versículo 23, temos um outro caso de adultério. Nesse, a jovem estava “desposada”, “prometida” a um outro homem, o que é equivalente a um noivado nos dias de hoje. Não é estupro e a moça também é considerada culpada, pois, o caso acontece numa cidade e as moças virgens não saiam de casa sozinhas, e, como o texto diz, esta moça em questão não gritou, não pediu socorro, o que leva-nos a entender que ela foi se encontrar com o homem, consentindo com o ato. Este caso também era punido com morte.

O terceiro caso, no versículo 25, acontece num campo. Lugar isolado, com poucas pessoas, provavelmente a moça poderia estar lá exercendo algum trabalho com animais, buscando água, coisas do tipo. O verbo “pegar” no verso 25, ou em outras versões “forçar”, no original é o verbo TAPHAS, que significa: apanhar, pegar, capturar, agarrar. Ou seja, aí sim temos um caso legítimo de ESTUPRO, e, portanto, a mulher era considerada inocente e o homem condenado à morte. O caso, no versículo 26, é comparado com um assassinato. Logo, para os israelitas, estuprar era semelhante a assassinar.

E, por fim, os polêmicos versículos 28-29, que são os versos citados na imagem. Nesse quarto caso nós NÃO temos um caso de estupro! O homem “acha uma moça virgem não desposada", que na verdade seria melhor traduzido por “se encontra com uma moça virgem não desposada” (em algumas versões está dessa forma, como na NVI, por exemplo), ou seja, ele se encontra com uma moça solteira. O homem “pega” nela, em outra versões traz a palavra “violenta”. O verbo escrito no original é SHAKAB, que tem um significado diferente de taphas. Shakab significa “deitar, deitado com, referindo-se a relações sexuais”. Logo, vê-se que não é um caso de violência, como no versículo 25, é um caso semelhante dos demais acima. Trata-se de dois jovens solteiros que se encontraram escondidos para fazerem sexo e foram descobertos. Com isso, o rapaz tinha que pagar um dote para o pai da moça e se casar com ela, pois, ela deixou de ser virgem e isso era considerado como desonra para os judeus, então tinha que casar! O caso pode ser comparado ao que chamamos hoje de “sexo antes do casamento”. E nós sabemos bem que fazer sexo antes de casar não é um caso de estupro.   

Ao contrário do que imagina o senso comum, a mulher sempre foi protegida pelos judeus, pela lei mosaica e, principalmente, por Cristo, que quebrou inúmeros estigmas e protocolos ao lidar com as mesmas. 



Fonte de pesquisa:
Talmude Babilônico.
Torá hebraica com tradução do Rabino Meir Matzliah Melamed.
Bíblia Almeida.
Bíblia King James.
Bíblia NVI.
Dicionário Strong.

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