As sociedades tradicionais
acreditavam que o problema do mal na sociedade era proveniente de uma
autoestima muito elevada, soberba, nas pessoas. Portanto, estas precisariam de
um bom choque de realidade e entendimento de sua maléfica natureza. As
sociedades modernas, com um pensamento totalmente oposto, acreditam que o
problema do mal social está na baixa autoestima, daí o homem precisar de uma boa
dose de auto-estima, que o mostre o quão importante e especial ele é. Eu
poderia dizer que uma das visões pode ser mais maléfica do que a outra.
Contudo, não é esse o foco. O interessante está no fato de os dois tipos de
problemas – baixa e alta autoestima – possuem a mesma raiz e essência: um ego
exageradamente inflado, como um órgão inchado, ele encontra-se vazio, oco,
frágil, atarefado e dolorido.
Está vazio, pois busca preencher
a si mesmo com todo tipo de prazer, apoiando sua felicidade e alegria em
qualquer coisa que encontra pela frente. Pode ser um objeto, uma pessoa ou até
mesmo uma posição. Tudo pode servir para preencher o ego inflado. Contudo,
estas coisas colocadas no lugar errado só acentuam ainda mais o vazio já
existente.
Ele está inchado e dolorido, como
um órgão doente. Geralmente não costumamos parar para pensar sobre nossos
membros do corpo. Nossos dedos dos pés estão lá, e nós não costumamos prestar
muita atenção neles. Até que um deles adoeça. Um órgão doente chama atenção.
Ele passa a ocupar nossos pensamentos e preocupações. Assim é o ego inchado e
dolorido. Ele pensa em si próprio o tempo todo. Preocupa-se exacerbadamente
sobre o que pensam de si, sobre sua aparência e como os outros o tratam. E, quando
uma dessas coisas sai errada, ele dói, ele fica dolorido. O ego inchado está em
busca de atenção. Ele quer ser notado, quer ser o centro.
Ele está atarefado. Na verdade,
atarefadíssimo! E, em especial, ocupa boa parte do seu tempo em duas coisas:
vangloriar-se e comparar-se com os outros. O ego inflado é insaciável. Ele
busca comparar-se aos outros apenas para poder verificar se ele é, de fato,
melhor do que os demais. E, quando percebe que não é, sente-se vazio, tolo,
irritado e parte em busca de novas coisas para fazer. Coisas que faz não por
prazer e alegria, mas, simplesmente para poder “melhorar seu currículo” e então
sentir-se melhor do que os outros.
Por último, ele está frágil. Como
uma bexiga de festas, cheia de ar a ponto de explodir, assim está o ego
inflado. Como ele está cheio apenas de coisas vãs e passageiras, não há nada de
sólido dentro dele, ele pode explodir a qualquer momento.
Logo, percebo que tanto o ego que
se sente inferior demais, quanto aquele que se sente superior a todos, ambos
estão em busca de visibilidade, estão vazios e querem ser notados a todo custo.
A solução não está em mostrar que
ele é bom ou mau. A solução, na verdade, está em ter uma nova visão de si. Uma
nova identidade. Uma humildade que seja fruto do evangelho. E esta humildade
manifesta-se em esquecer-se de si mesmo. Sem se importar com sua própria
opinião e com a dos outros, a humildade advinda de Cristo leva-nos a saltarmos
para fora de nós mesmos, olhando para Cristo e para o próximo, tiramo-nos do
centro de tudo.
Saímos do julgamento. Não precisamos
ficar a espera do veredicto de aprovação ou condenação que vem dos outros ou de
nós mesmos. Ao contrário, nos apegamos apenas no veredicto que já nos foi dado,
crendo que o julgamento já foi encerrado: O filho de Deus morreu por nós.
Agora não vivo mais eu, mas, Ele
mesmo vive em mim. Já não é uma questão de quem eu sou, mas, isso é sobre quem
Ele é em mim. Eu já fui aceita e amada. Fui abençoada e chamada de filha. Sei que
sou especial para ele. Logo, o que me importa o que outros vão dizer sobre mim,
ou até mesmo o que eu penso de mim? O que importa é o que ele pensa!
Tal convicção, de saber que o
veredicto de Deus foi-me dado antes de eu fizer qualquer coisa que seja –
portanto, ele não depende de mim – leva-me a tamanha alegria que me impulsiona a
viver de maneira correta, simplesmente porque sei que fui amada. Não por
vanglória, nem por auto-merecimento ou condenação, mas por gratidão.
Esqueça de si! Esqueça de buscar
merecimentos e elogios o tempo todo.
Sabemos quando alguém é humilde, não quando este alguém vive a dizer o
quão fraco ou pequeno é, mas, quando este alguém pára e ouve. E faz isso porque
não está interessado em ter-se no centro de tudo, ao contrário, ele está
interessado no que está fora de si. Dessa forma, esta pessoa conseguirá se
alegrar com suas vitórias tanto quanto se alegrará com as dos outros.
Baseado no livro: Ego Transformado, de Timothy Keller.
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